Ulisses Pereira - Caldeirão de Bolsa
Espelho de nós
Se tivesse que escolher a frase que mais me cativou ao longo dos vários anos que dedico aos mercados financeiros, esta seria sem dúvida a eleita. Franzi o sobrolho quando a li pela primeira vez, olhando para esta afirmação mais como uma tentativa de dizer algo surpreendente do que verdadeiro. No entanto, quanto mais conheço os mercados e a mente humana, mais concordo com esta frase e a considero genial na forma de caracterizar o papel de cada investidor perante o mercado.
“Todos têm aquilo que querem do mercado”
Ed Sekyota
Se tivesse que escolher a frase que mais me cativou ao longo dos vários anos que dedico aos mercados financeiros, esta seria sem dúvida a eleita. Franzi o sobrolho quando a li pela primeira vez, olhando para esta afirmação mais como uma tentativa de dizer algo surpreendente do que verdadeiro. No entanto, quanto mais conheço os mercados e a mente humana, mais concordo com esta frase e a considero genial na forma de caracterizar o papel de cada investidor perante o mercado.
Levada a ideia da frase ao limite, poderíamos concluir que só perde dinheiro no mercado quem quer. Parece absolutamente irrealista mas não o é. Muitos dos investidores procuram muito mais coisas no mercado do que ganhar dinheiro e, por isso, muitas vezes o facto de perderem dinheiro não quer dizer que não obtiveram aquilo que pretendiam.
No fantástico livro “Market Wizards”, em que Jack Schwager entrevista os maiores “traders” mundiais, Sekyota exemplifica com um caso real, numa passagem que não resisto a transcrever: “Conheço um “trader” que parecia apanhar sempre o início de todas as subidas substanciais e transformou os seus 10 mil dólares em 250 mil num par de meses. Depois, mudava a sua personalidade e perdia tudo o que tinha ganho. Este processo repetia-se com regularidade. Desde que eu comecei a negociar com ele, saindo quando a sua personalidade mudava, dobrei o meu dinheiro, enquanto ele foi à falência como era costume. Mas ele não conseguia ajudar-se a si mesmo. Não acredito que ele conseguisse fazê-lo de uma forma diferente. Ele não o queria. Tinha uma grande dose de excitação, tornava-se um mártir, conseguia a simpatia dos seus amigos e conseguia ser o centro das atenções. De certa forma, julgo que ele realmente tem aquilo que quer.”
Apesar deste ser um exemplo extremo, é muito frequente encontrar investidores que negoceiam, sobretudo, em busca de excitação e adrenalina. São muito mais do que se possa imaginar aqueles que investem nos mercados como se estivessem a comprar um bilhete para andar na montanha russa ou ver um jogo de futebol. Só que esquecem-se que aqui o bilhete pode ser muito mais caro.
Claro que, na maior parte das vezes, os investidores não têm consciência das suas verdadeiras motivações para negociarem. Quase todos acreditam que aquilo que os move é a vontade de ganhar dinheiro. Mas como pode você concluir se negoceia pela simples vontade de ganhar dinheiro ou pela excitação e a adrenalina? Experimente ficar algum tempo sem negociar. Se não o conseguir fazer, é sinal que a Bolsa é para si um vício e que está no mercado para satisfazer as necessidades que esse vício lhe proporciona, seja a emoção, a adrenalina, o risco ou simplesmente a pura diversão.
E esta incapacidade de estar, serenamente, de fora a assistir ao desenrolar do mercado reflecte-se nos resultados do investidor, pois muitas vezes são fulcrais esses períodos em que não se negoceia. Parafraseando o mítico “trader” Jesse Livermore, “Depois de passar muitos anos em Wall Street, ganhando e perdendo milhões de dólares, eu quero-vos dizer o seguinte: Nunca foram os meus pensamentos que me fizeram ganhar as grandes fortunas. Foi sempre quando eu estive sem negociar.”
Uma das grandes diferenças entre um “trader” perdedor e um “trader” ganhador é a forma como reage às vitórias e às derrotas. Um “trader”perdedor fica eufórico com os grandes ganhos e completamente deprimido com as derrotas, enquanto que um ganhador consegue controlar as suas emoções e perceber que o seu sucesso nos mercados não depende daquele negócio, mas sim da capacidade em ser consistente ao longo de vários negócios.
Um “trader” ganhador, quando sofre uma grande perda, procura tentar perceber as razões para a sua falha, de forma a poder corrigi-la no futuro. Um “trader” perdedor, pelo contrário, começa a responsabilizar outros pelas suas perdas. Analistas, jornalistas, corretores, manipuladores, CMVM, tudo serve para que o perdedor fuja às suas responsabilidades e as atire para cima dos outros.
Depois dessa perda, o “trader” perdedor muda de corretora, começa a ler outros analistas, mas esquece-se de perceber que o erro faz parte do processo de aprendizagem e que talvez devesse procurar dentro dele a explicação para esse erro.
Enquanto não conseguir mudar essa sua forma de encarar as perdas, ele nunca vai conseguir passar a ganhar dinheiro consistentemente nos mercados. Ou, como diria Sekyota, “Um trader perdedor pode fazer muito pouco para se tornar num ganhador. Um trader perdedor não se vai querer transformar. Esse é aquele género de atitudes que só os traders ganhadores têm.”
Por isso, da próxima vez que perder dinheiro nos mercados e der por si a culpar outros pelo seu insucesso, pare para pensar. Provavelmente, está mais interessado em ter razão do que em ganhar dinheiro. É sinal que ainda tem um longo percurso pela frente até ao sucesso nos mercados financeiros.
Este artigo externo ao Vencer na Bolsa foi publicado com consentimento do autor.
Fonte deste artigo: http://www.jornaldenegocios.pt/default.asp?Session=&SqlPage=Content_Opiniao&CpContentId=309803
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