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A guerra das análises (artigo de bolsa)

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Interessante artigo de bolsa do Ulisses Pereira sobre a análise técnica e a análise fundamental.
Aqui fica o artigo:



Ulisses Pereira


Um dos debates mais acesos e intermináveis sobre os mercados coloca frente a frente a análise técnica e a fundamental. É uma das mais apaixonantes discussões com os defensores de ambas as análises a esgrimirem argumentos quase sempre de uma forma acalorada.

Para aqueles que estão menos familiarizados com estas questões, penso ser importante começar por explicar em que consistem ambos os tipos de análise. De uma forma simplista, pode dizer-se que a análise fundamental consiste no estudo da actividade de uma empresa, do sector em que está envolvida e da economia em geral, projectando as previsões de evolução de todos estes factores de forma a tentar perceber-se qual o valor intrínseco da empresa e, consequentemente, da acção. Se a acção está cotada abaixo disso, é aconselhável comprar e se estiver cotada acima, deve-se vender.

Já a análise técnica não se preocupa minimamente com os factores que influenciam o desempenho da empresa, limitando-se a seguir o desempenho de uma acção no mercado e, através do estudo dessa evolução, procurar perceber qual o rumo que a acção pode tomar. A análise técnica defende que todas as notícias e expectativas estão incorporadas nas acções. O facto do comportamento das massas obedecer a determinados padrões ajuda a tentar perceber qual o futuro de uma dada acção tendo em conta o seu desempenho passado.

O que primeiro gostaria de realçar é que qualquer postura dogmática nesta “guerra” entra a análise técnica e fundamental me parece completamente desajustada. Um investidor pode obter excelentes resultados com a análise fundamental e outro com a análise técnica. Em Bolsa, o que é importante é que usem um método que lhes permita ter sucesso e que se adapte às suas características.

Acredito que, no longo prazo, as cotações se movem em função dos fundamentais das empresas e da economia em geral. Contudo, no curto prazo, acredito que a análise técnica é, sem dúvida, a mais poderosa arma ao serviço dos investidores para os auxiliar a tomarem as suas decisões.

No curto prazo, não acredito serem os fundamentais que comandam o rumo do mercado. São factores, sobretudo, de carácter emotivo que fazem oscilar as cotações e acredito ser possível ler, nos gráficos, as emoções dos investidores. O medo, a ganância, as hesitações, o “inside trading”, tudo isso é possível de ser observado nos gráficos e são esses sentimentos que fazem mover as acções no curto prazo.

De que vale saber que a empresa X está, em termos fundamentais, subavaliada se ela pode permanecer nesse estado durante largos anos? O mercado é feito de longos períodos de irracionalidade que podem tornar-se extremamente dolorosos para quem o tenta contrariar.

Outro dos factores que me faz privilegiar, em termos de curto prazo, o uso da análise técnica em detrimento da fundamental é que nem todos têm acesso em simultâneo à informação dos dados que influenciam a análise fundamental enquanto que, para a análise técnica, basta o preço e o volume que é acessível, em simultâneo, a todos os investidores.

O exemplo mais flagrante é o caso da saída de notícias relevantes em relação a uma empresa. Nesse momento há uma alteração dos fundamentais, mas há sempre investidores que têm acesso a essa informação antes dela ser divulgada. Isso muitas vezes é bem visível nos gráficos com uma variação clara da cotação nas vésperas desse acontecimento. E são essas pessoas que compraram as acções antes da notícia ser divulgada que vão vender as suas acções ao pequeno investidor que, ao ouvir a surpreendente notícia, vai a correr comprar acções. Infelizmente, na maioria dos casos, para depois assistir à sua queda.

Em suma, em termos de médio e longo prazo acredito que a análise fundamental seja o melhor instrumento para a tomada de decisões no mercado mas, no curto prazo, acredito que a análise técnica é a melhor forma de percebermos a relação de força e sentimentos no mercado que vão determinar a evolução das cotações. E, para isso, não precisamos de notícias, informações privilegiadas ou bons contactos. Basta-nos o preço e o volume.

Autor do texto: Ulisses Pereira.
Fonte: Jornal de negócios Online.

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